segunda-feira, 28 de março de 2011

Cultura popular: Folclore e subversão

Este trabalho tem como objetivo compreender o folclore popular e a subversão popular, conforme o pensamento do filósofo italiano Antonio Gramsci e do espanhol Martín-Barbero.

O que podemos entender por cultura popular. Muitos autores definem como qualquer manifestação popular, seja ela uma música, dança, festa, folclore, literatura em que o povo produz e participa de forma ativa. De acordo com estudos de historiadores medievais, o que existia antes era a cultura da maioria transmitida informalmente nos mercados, nas praças, nas feiras e nas igrejas, portanto aberto para todos. Durante o carnaval, que é uma festa popular, a aristocracia e a nobreza participavam, juntamente com os “não nobres” desta manifestação. Os romances de cavalaria e canções populares eram divididos entre nobres e camponeses.

A elite, que lia livros populares, que frequentava festas, não associava essas práticas ao povo: se para a maioria havia uma só cultura, para a minoria havia outra tradição, transmitida formalmente nos liceus e restrita aos que freqüentavam estas instituições exclusivas, considerando uma tradição clássica, e oposta à tradição popular. Foi em fins do século XVIII e início do XIX que ocorreu a descoberta da cultura popular, sendo definida por oposição à erudita.

Para Antonio Augusto Arantes à cultura popular estar relacionado com o conceito de saber, como também a função de resistência a dominação de classes. As escolas, as universidades, as igrejas e os meios de comunicação nos ensinam a ter um modo de vida civilizado ou esteticamente correto, seguindo um padrão, um conceito que eles acham que é o culto, porém eles não conseguem evitar que as pessoas tenham contato com objetos e práticas populares do cotidiano. Entende- se como cultura, o conjunto de mecanismos de controle simbólico e para o governo o controle dos comportamentos do homem.

De acordo com Martín-Barbero, folclore é um movimento de separação e coexistência entre dois “mundos” culturais: o rural, configurado pela oralidade, as crenças e a arte indígena e o urbano, configurado pela escritura, a secularização e a arte refinada. No movimento romântico do século XVIII, o folclore é relacionado ao coletivo, aos heróis do povo, opondo-se aos dogmas cristãos e burgueses. A igreja e a burguesia queriam impor uma diferenciação do que era cultura erudita e cultura popular. Naquele período as tradições culturais que eram exclusivamente rurais (campo) foram levadas para o urbano, e assim sofrem modificações por causa da mudança do cotidiano. As cidades estavam passando por transformações indústrias, as pessoas tinham que se adaptar aquela nova realidade.

Com essa nova realidade, o folclore que estava relacionado com costumes, crenças, raças (branco, preto e índio) e tradições tiveram mistura com as novas atividades da urbanização e industrialização. Esses costumes eram tradicionalmente preservados, passando de geração para geração, a partir desse novo contato, essas tradições começam a ganhar novas características. Quando nos perguntam sobre folclore, relacionamos logo com os festejos do Bumba meu boi e Boi Bumbá, que são festas tradicionais das regiões do nordeste e do norte, dos estados do Maranhão e Amazonas, respectivamente. Essas festas são tradicionalmente comemoradas nos meses de junho e julho e contêm personagens humanos e animais fantásticos. O enredo não muda, sempre trás o boi, como elemento principal da história, porém ao longo dos anos, essas festas ganham novos elementos, como novos personagens para a história, novas roupas, musicas e etc. As festas folclóricas são iguais a todas as sociedades, onde se adaptam e se transformam com as novas realidades, mas nunca são extintas totalmente. A cultura popular está se renovando, de acordo com a modernização da sociedade.

O folclore popular está relacionado com a metáfora de transformação, como exemplo são as festas juninas, o festejo foi trazido pela nobreza de Portugal influenciando com as danças e trajes típicos. Todos os elementos tradicionais com o passar dos tempos foram se misturando com características típicas da cultura do sertanejo brasileiro. A festa ganhou força, principalmente do nordeste brasileiro, onde as pessoas se caracterizam de matuto (sertanejo) e dançam quadrilha misturando ritmos e aspectos de cada cultura da região. Em todas as sociedades encontramos grupos hegemônicos e grupos que são dominados. Segundo a comunicóloga Raquel Paiva, o termo hegemonia deriva do grego que significa conduzir, guiar, liderar, dirigir, comandar e estar à frente. O popular é caracterizado como modelos de comportamentos contra-hegemônicos, que diferem dos padrões predominantes. A cultura popular como subversão tem haver como a metáfora de transformação, como movimentos sociais, que representam uma parcela da sociedade que é contrária aos objetivos de um determinado grupo ou governo, e através de lutas, negociações e resistências (manifestações) chegam a um acordo.

De acordo com Antonio Canclini, a cultura popular constitui uma esfera pública, plebéia, informal e organizada por meio de comunicação oral, exemplo disto, as manifestações do sindicato dos motoristas de ônibus de fortaleza, que utilizam carros de sons para transmitirem suas idéias. Esses movimentos não têm apoio das mídias, e por isso são mal vistos pela sociedade, porém quando ganham apoio há um maior dialogo entre esses movimentos e a sociedade.

Durante o período da ditadura militar no Brasil houve vários grupos de subversão a este grupo hegemônico que estava no poder. O popular está relacionado com a lutar e resistência ao poder. Artistas, estudantes mulheres fizeram parte destes grupos que lutavam contra a ditadura e usavam diferentes maneiras para ocultar os manifestos que eram proibidos pelos dominantes.

Artistas como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil produziram várias músicas com letras que falavam sobre a ditadura, mas de forma sutil para burlar os órgãos que censuravam qualquer manifestação cultural contrária a ditadura. A música, O Cálice de Chico Buarque e Pra não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré foram ícones das manifestações culturais da época.

Este artigo sobre a cultura popular: folclore e subversão nos mostram que apesar de quererem preservar as origens das tradições folclóricas, elas estão sujeitas a mudanças, pois estão em contato com os avanços tecnológicos e com as diferentes sociedades, que sempre estão adaptando e se renovando. Sempre vão existir grupos sociais que são contra aos grupos dominantes, e que vão sempre tentar entrar em um acordo, resistir dessa dominação ou lutar contra ela.


Por: Yara Barreto da Silva

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