domingo, 13 de novembro de 2011

Sindicato e Imprensa: Diálogo possível?



Bem lembrado pelo comunicólogo Vladimir Caleffi Araujo, em artigo sobre o jornalismo de informação sindical no Brasil (2003), a comunicação veio, em seu processo histórico, se atrelando e invadido os mais variáveis campos da vida social. Com isso, os grandes centros midiáticos se constituíram a partir de iniciativas de empresas, partidos políticos, associações, igrejas e tantas outras formas de organização.

Destas tantas possibilidades de origem comunicacional, situam-se dois distintos meios, que propagam suas informações sob pontos de vista e criteriabilidade bem definidos. Tratam-se do jornalismo sindical - aquele originado da necessidade de veiculação das manifestações de cunho político da classe operária – e o jornalismo corporativo, definido com aquele que transmite informações ao público pela ótica financeira.

Estes detalhes, claramente diferenciados de cada um, acabam por tornar o relacionamento entre jornalistas de grandes jornais, TVs, portais ou rádios, e os jornalistas responsáveis pela comunicação sindical um grande encontro para debates e, por vezes, desentendimentos homéricos. É a clássica situação do choque de interesses. O do sindicato, de apresentar a sua linha argumentativa acerca das reivindicações trabalhistas, e o dos grandes jornais, de moderar aquilo demandado pela voz da classe setorista de acordo com seu ciclo de relacionamentos políticos e econômicos.

Não é de se espantar que muitas das informações apuradas por um repórter de um grande meio de comunicação, através de entrevistas com representantes sindicais, não saiam nas páginas do periódico no dia seguinte. Isto ocorre porque nem toda a posição política exposta clara e vorazmente pelo sindicato em questão será o cerne da pauta da empresa responsável pela reprodução massiva do noticiário.

Em âmbito de interesses, podemos encontrar uma similaridade entre o jornalismo sindical e o corporativo. Os dois têm caráter institucional. Visto que consideremos este jornalismo aquele que se volta a questões da instituição, não importa sua origem. Assim como o grande jornal da cidade direciona seu discurso milimetricamente traçado para que não atinja seus parceiros publicitários e investidores com matérias comprometedoras, a comunicação que parte dos sindicatos canaliza a produção informativa parcial para que seja apresentada a versão clara das manifestações dos trabalhadores perante seus chefes e ao Executivo.

Dan Irvin Rather, jornalista estadunidense com mais de 50 anos de atividade, tem grandes acontecimentos marcados em sua carreira. Dentre estes, estão a cobertura do assassinato de John F. Kennedy e o escândalo do caso amoroso envolvendo Monica Lewinski e o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Rather trabalhou em grandes empresas. A principal delas, o poderoso grupo CBS.

Apesar de pertencer ao grande centro do jornalismo mundial, onde interesses correm pelas portas além das Redações, ele não deixou de lado os valores jornalísticos. Pois, não podemos esquecer, a pessoa que escreve também é um trabalhador. Trata-se de um jornalista que está ali todos os dias, indo à rua atrás de novas histórias, continuações, resolução de imbróglios. Muitos deles descobrem os reais interesses e ligações externas da mídia que os emprega apenas depois de ter o texto barrado na última hora de edição.

Há, de certo, muitos embates em que o jornalismo sindicalista acaba por tornar a figura do jornalista que o entrevista aquela responsável pela distorção, omissão ou criminalização – palavras chave de muitos discursos sindicais – dos fatos apresentados pela instituição conhecida por sindicato.

É também certo que muitos jornalistas, motivados ou não pela postura editorial (algumas vezes, pela total ausência desta), agem de maneira dissimulada para com os sindicatos, prontos em exprimir declarações desconcertantes para desconstruir a imagem destes diante do público. Quando isto ocorre, fatidicamente, o meio que exerce este serviço promove a disfunção de deturpar e criminalizar as reivindicações sindicais diante do público.

O último caso citado quase sempre acontece por motivações políticas e ideológicas. Não é difícil constatar que os sindicatos, historicamente, serviram de berço para a formulação de novas legendas no País – vide o caso do Partido dos Trabalhadores, por exemplo. E quando estas instituições, opositoras dos donos de Organizações e interessadas na preservação de direitos e privilégios dos empregados, se mostram como fator desestabilizador do meio social, eis o surgimento de um ‘inimigo feroz’ para grande parte da mídia corporativa.

Voltemos ao caso de Rather. Aos 74 anos, em 2005, o jornalista apresentou pela última vez seu noticiário Evening News. Largou a emissora que fora sua casa por 44 anos. Perguntado sobre o porquê de ter tomado a decisão, ele afirmou que queria seguir um caminho mais independente. Disse: "O jornalismo em sua melhor forma é um alerta, não uma canção de ninar. Eu não estou no negócio de canções de ninar".

O depoimento de Dan Irvin Rather com certeza causou alvoroço, principalmente no setor de entretenimento. Classificações como “declarações polêmicas” podem ser premeditadas diante de tal fluida declaração, vinda de alguém que passou anos na CBS. Porém, em sua essência, o que Rather mostra é uma lição.

Não importa quão imperiosa seja a empresa na qual o jornalista bata o seu ponto, o compromisso dele vai além das instituições. Portanto, cabe a ele compreender o seu papel de apresentar as versões após apuração afincada de todo e qualquer caso. Se os interesses do jornal no qual ele trabalha impedem sua matéria de ser veiculada, esta é outra história, e nós bem a conhecemos. Mas o jornalista pode fazer o seu papel.

Portanto, ao entrevistar o responsável pelo meio sindical, o repórter deve ouvi-lo, interroga-lo com sapiência e se ausentar de qualquer condução malévola e egocêntrica. É preciso que entenda o caráter posicional da figura do comunicador no sindicato. Assim como este deve entender que nem tudo o que proliferar aos blocos de notas e gravadores do jornalista a sua frente, estará nas páginas do jornal no dia seguinte. Os conflitos não devem ser pessoais. A mágoa jornalística só complica as relações fundamentais para a comunicação.

Vídeo

O editor-executivo do O POVO Online, Erivaldo Carvalho, exerceu seu ponto de vista sobre como está situada a organização da comunicação dos sindicatos. Sob a ótica de quem está numa empresa jornalística, dá sua opinião sobre o comportamento dos representantes institucionais defronte a sua necessidade midiática. Confira o vídeo clicando aqui.

Por André Victor Rodrigues


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