segunda-feira, 29 de abril de 2013

Popular com invenção do cotidiano: a criatividade como principal ferramenta


O cotidiano é como um dia afirmou o antropólogo e semiólogo Martin-Barbero, um espaço cultural, onde existe a possibilidade para uma criação muda e coletiva, com ênfase para as diferenças de cada grupo social.  O historiador francês Michel de Certeau, por sua vez, acredita que a cultura popular tem um espaço privilegiado no cotidiano das pessoas. E é nesse cotidiano que as pessoas se apresentam realmente como são, com as suas ânsias e frustrações, sem fingimentos pontuais, traduzindo a forma de viver do sujeito.

Prova disso são as pessoas que conseguem, por meio da criatividade, driblar as dificuldades da vida, dando um “jeitinho” para resolver os seus problemas. Eis a diferença da cultura industrial, que não se utiliza de bricolagens, gambiarras, astúcias, invenções, readaptações, táticas e redesenhos para conviver e até se safar de situações precárias. As pessoas que trabalham com reciclagem sabem bem o que é isso, pois o seu processo criativo está sempre em execução, modificando o que já se tem e transformando-o em outro objeto, com outra utilidade.

Garrafas pets transformadas em jarros. Criatividade com utilidade


Vimos em sala de aula um episódio do animado Os Simpsons que mostrava bem isso, apesar de tratar de outro tema. Nele, a personagem Marge modificava duas vezes o mesmo vestido. Cada modelo seria utilizado em um momento especial: o original, modificado para jogar golfe e transformado em um vestido para um baile. Esse processo criativo se deu por uma necessidade, já que ela não tinha condições de comprar outra roupa e queria muito ir aos eventos. Foi com astúcia que Marge enfrentou o seu problema naquele momento.

Na vida real também temos muitos exemplos dessa teoria. Tal como um pai de família sem dinheiro para comprar um presente para o seu filho, prestes aniversariar. A solução encontrada é, fazer um carrinho utilizando latas velhas, que não antes da necessidade não seriam utilizadas para tal fim. Nessa situação, o pai de família, sem condições financeiras, conseguiu por meio da invenção popular produzir um novo objeto, que cumpre o seu papel: alegrar o seu filho e promover uma inclusão social.




Para o professor Ismar Capistrano “o popular é assim espaço das táticas e da diversidade. São os remendos improvisados do dia-a-dia necessários para o agir prático”. Essa teoria, no entanto, não encontra-se apenas nos fazeres práticos da sociedade, mas também na comunicação dos povos. Não raro descobrimos que termos e expressões utilizadas por nós, foram, há algum tempo, readaptadas de culturas diversas. É o que faz a necessidade: promove uma nova roupagem. E nós, brasileiros, somos especialistas em nos adaptar a isso. Ainda bem.






5 comentários:

  1. O popular como a invenção do cotidiano é sem dúvida alguma um termo bem brasileiro.Quem nunca ouviu falar no famoso jeitinho brasileiro, ou no jeito brasileiro de ser. Porém, deve-se deixa claro que esses termos, dentro da invenção do popular, não se remetem a atos libidinosos ou corruptos, e sim a garra, a força,a luta do povo brasileiro no enfrentamento diário de suas necessidades.

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  2. É estimulante ver a criatividade das pessoas quando se encontram em uma situação de necessidade.

    Mês passado, fiquei sabendo que um projeto realizado por alunos e professores de uma escola pública do interior do Ceará, que propõe a captação de água a partir da fibra de bananeira, ganhou um prêmio nacional e foi selecionado para exposição numa feira na Tunísia.

    Ou seja, a "gambiarra" deu tão certo que até os países do exterior ficaram interessados. :)

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  3. O Brasil é o país que mais recicla latinhas de alumínio no mundo. O bacana é que isso pouco se deve ao governo e muito a iniciativa das pessoas com déficit de renda. Poderíamos avançar mais se os governos tivessem políticas públicas que incentivassem a reciclagem. O nosso povo tem um enorme potencial criativo, basta apenas condições favoráveis para o seu desenvolvimento.

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  4. Cotidiano e diferenças, uma relação muito coesa. Sensações, sentimentos, sentidos, realidade. Estas palavras, talvez, traduzam a vida social e, consequentemente, a cultura popular.
    Dentro desse contexto, uma característica é fundamental: a criatividade.
    O texto destaca muito bem que o processo ocorre por uma questão de necessidade e também pode promover a inclusão social.
    Além disso, aponta o "jeitinho de ser do brasileiro" como um ponto forte da nossa sociedade.

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  5. O famoso "jeitinho brasileiro". Repetimos essa expressão, mas pouco refletimos sobre ela. E é o que propõe o texto. Jeitinho, gambiarras, adaptações, seja qual for o nome, ser criativo é questão de sobrevivência. Temos problemas a resolver e temos poucos recursos, mas somos um povo criativo e otimista, ainda bem.

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