quarta-feira, 8 de maio de 2013

Vídeos populares: pensar, gravar e reivindicar


        Reivindicar, comunicar e contestar. Esses são os principais objetivos dos vídeos populares, que é o conjunto de produções audiovisuais produzidas por movimentos populares. Esse tipo de movimento surgiu na década de 70, quando houve uma repressão política, que acabou originando manifestações. Os vídeos se tornaram instrumentos de luta pelo social. Mas, naquela época, por conta dos altos custos e da tecnologia analógica, havia uma limitação na sua produção, além da falta de formação dos idealizadores, ausência de espaço para a divulgação e a sua relação divergente com grupos políticos. 
        
        Apenas a partir de 1982, quando há uma ascensão da democracia, é que o vídeo popular ganha mais espaço, dando oportunidade e voz para as pessoas, já que a TV aberta é controlada por grandes empresas. Nos anos 80 e 90, os vídeos populares começaram a ser estudados pela comunidade acadêmica. Eis sua atuação sendo valorizada.
         
       Com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, os brasileiros vão se envolvendo com a prática e lutando por suas ideias. Mas, vale lembrar, que a tecnologia ainda era analógica. Alguns fatores, no entanto, ajudaram e propiciaram o movimento dos vídeos, como o apoio de entidades estrangeiras, popularização dos vídeos cassetes e a criação das escolas de comunicação, que ajudaram a difundir o material produzido e a capacitar o seus idealizadores. Em 1983, por exemplo, um curso de capacitação para produção e vídeos surge no ABC Paulista. Os alunos, mais de cinco mil trabalhadores de todo o país. Como resultado, foi fundado a Central Única dos Trabalhadores (CUT), órgão sinônimo de luta até hoje.
        
       Nos anos 2000, no governo do presidente Lula, o vídeo popular se fortaleceu de vez, por conta dos grandes incentivos, inclusive por meio do Ministério da Cultura e de Organizações Não Governamentais (ONG). Foi-se ganhando espaço em TVs fechadas, canais educativos e centros universitários. Além de um aprimoramento das questões técnicas, já que os vídeos não buscam audiência, oferecem conteúdo de qualidade como alternativa.
         
       Atualmente o movimento está forte, principalmente com a criação de sites que permitem a divulgação desses vídeos, consentindo que o seu conteúdo seja assistido em toda parte do mundo. A internet veio para somar. O Youtube, por exemplo,  é uma ferramenta eficiente e muito utilizadas pelos produtores para divulgar os conteúdos produzidos.
     
     As tecnologias móveis, como celulares e câmeras digitais também foram primordiais para a popularização do movimento, permitindo que qualquer pessoa possa participar, produzindo conteúdo de qualidade a baixo custo. Os vídeos estão na rede e podem ser acessados a qualquer momento. Como ferramenta de divulgação, as redes sociais estão sendo utilizadas, agregando valor ao movimento.
       
       Os vídeos populares são voltados para os movimentos sociais, mas não necessariamente precisam ser feitos pela comunidade. Eles podem ser produções independentes, muitas vezes, custeados por grandes empresas, se possuir um cunho social.
        
      Em Fortaleza temos, desde 2003, a TV Janela, uma ONG voltada para a produção de vídeos populares, cujo conteúdo busca divulgar notícias positivas sobre o bairro Pantanal, que era sinônimo de marginalização. A ideia deu tão certo, que o espaço se tornou conhecido pela população e forma adolescentes que querem investir na área de audiovisual. Iniciativas simples, apoio da comunidade e força de vontade, podem fazer a diferença.




Exemplos de vídeos populares no Brasil

TV dos trabalhadores
Apoiava movimentos sindicais, a redemocratização e possuía o interesse de se expandir nacionalmente,

TV Bixiga
Feito por populares de um bairro tradicional de São Paulo pretendia promover o resgate da memória da comunidade. Após sucesso, teve reconhecimento da TV Gazeta. Contou com a ajuda da igreja do bairro, de uma produtora e de populares.

Lilith TV
Movimento feminista, idealizado na década de 80, por um grupo de mulheres que abordavam questões sobre o preconceito social como o gênero. Chegou a conquistar um prêmio.

Dificuldades:
- Alto custo dos equipamentos
- Falta de capacitação para os produtores
- Relação divergente entre grupos políticos e comunitários
- Falta de espaço para divulgação

Soluções:
- Democratização da política
- Avanço da tecnologia e barateamento dos equipamentos
- Criação das escolas de comunicação
- Criação de ferramentas de divulgação



Luiz Fernando Santoro, em seu livro A imagem nas mãos:o video popular no Brasil, acredita que os vídeos adotam diversas linguagem e os descreve em seis tipos:

1.      Autoscopia, que consiste em gravar reuniões, registrando-as, para que as mesmas possam ser assistidas e difundidas pelo grupo apenas para integrantes do grupo. Estes vídeos não sofrem processos de edição por parte dos produtores;
2.      Registro, onde gravam-se eventos ou fatos que sejam de interesse do grupo, sem se preocupar com processos posteriores de edição;
3.      Edição simples, quando desenvolve-se um documentário manipulando um material já gravado. Desta forma, registros de fatos sociais ganham força midiática com aporte artístico;
4.      Documentário, quando tem-se os objetivos das gravações previamente definidos. Normalmente, este tipo segue um roteiro de produção, assim como uma estética definida a fim de informar com maior força midiática e aporte artístico que o tipo “edição simples”;
5.      Roteiro original, que possui uma melhor qualidade de topos os outros tipos, inclusive o documentário. Neste caso, apoia-se também na modalidade ficção, tendo como objetivo uma compreensão do grupo popular, e pode-se ampliar a reconstrução cidadã quando estendida a visualização para outros grupos;
6.      Suporte, quando o grupo analisa programas previamente gravados e deste ponto desenvolvem-se discussões. Tal análise é ampliada pelo YouTube, ampliando o grupo e ilimitando o alcance destes fragmentos de análise.




Laís Brasil, Liane Braga, Gabriela Farias e Mateus Rocha

3 comentários:

  1. Na minha opinião, em se tratando de movimentos sociais a utilização do vídeo como forma de divulgação é que a mais chama a atenção do público. Isso acontece pois a população passa a se ver e a se reconhecer e a reconhecer suas lutas através da imagem. Não é atoa que milhões e milhões de pessoas são atraídas pela TV no mundo inteiro.

    Infelizmente esse não é um dos meios mais democratizados(nenhum é), mas ele sendo tomado e utilizado pelo movimentos sociais, acredito que funciona como uma grande abertura para que se possa enxergar melhor as lutas e reivindicações mundo a fora.

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  2. Os vídeos populares são manifestações multimídias que agregam valor ao conteúdo popular a ser divulgado. Ainda que desenvolvido de forma tímida e não "incentivada", a internet surgiu também como um veiculo de força e impacto para auxiliar na divulgação e reivindicação das causas populares.

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  3. Como os colegas citaram no texto e comentários acima, o vídeo veio para somar. Se antes parecia distante, veiculado apena em grandes emissoras de televisão, a internet tornou esse processo mais próximo, mais íntimo. Qualquer um de nós pode ser produtor de conteúdo multimídia, basta ter uma câmera ou mesmo um smartphone na mão. Através desses aparelhos, cada vez mais acessíveis, podemos gravar declarações e registrar diversos movimentos sociais. Além de gravar, podemos também publicar, sem os custos elevados da TV. Além do youtube, surgem as webtvs, canais que ampliam ainda mais as discussões. Assisti a alguns exemplos de vídeos populares produzidos por comunidades, e fiquei impressionada com a qualidade e com a forma com que as questões foram colocadas.

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