Na TV Janela, jovens do bairro Planalto Ayrton Senna encontram oportunidade para desenvolver habilidades em diversas áreas, ao mesmo tempo em que promovem um bem à comunidade. Lá, eles aprimoram a capacidade comunicativa e aprendem a manusear câmeras, a editar vídeos, a redigir textos etc. Os programas produzidos pelos jovens, geralmente, abordam os aspectos positivos do bairro, permitindo que a comunidade se identifique com a TV. O estigma da violência, que antes amedrontava os moradores do Planalto Ayrton Senna, deu lugar à sensação de pertencimento e conquista da cidadania, graças à iniciativa.
Tudo começou em 2002, quando Valdenor Moura, principal responsável pelo projeto, realizou uma oficina de fotografia com adolescentes do bairro. O trabalho realizado na oficina agradou tanto, que resultou numa exposição temática itinerante, por algumas instituições do bairro. Os jovens participaram de todas as etapas do processo: aprenderam a operar as máquinas fotográficas, tiraram as fotos, revelaram e ampliaram as imagens para, em seguida, montar a exposição.
Os produtos para revelação, no entanto, eram muito caros, inviabilizando a abertura de novas turmas para a oficina. Foi quando surgiu a ideia: realizar cursos de audiovisual. Mas, e os recursos para a compra dos equipamentos, de onde viriam? Valdenor, então, arregaçou as mangas e foi buscar apoio junto ao Ministério da Cultura, onde apresentou o projeto da TV Janela. Conseguiu: em 2004, Valdenor obteve o apoio para a criação de um Ponto de Cultura, que viria a ser a TV Janela. (Pontos de Cultura são entidades que desenvolvem ações de impacto sociocultural em suas comunidades, reconhecidas e apoiadas financeira e institucionalmente pelo Ministro da Cultura e pelos Estados).
Obtidos os primeiros recursos, agora era hora de conseguir orientadores para ministrar as oficinas. Valdenor, que tinha contato com alguns professores da Casa Amarela Eusélio Oliveira (instituição ligada à Universidade Federal do Ceará, que oferece cursos nas áreas de cinema, fotografia e animação), convidou-os para participar voluntariamente do projeto. Atualmente, as oficinas são dadas pelos próprios jovens da comunidade, que noutro momento foram beneficiados pela iniciativa.
Nas capacitações, os alunos aprendem os “quatro P”: pré-produção (oficinas de roteiro e elaboração de pauta); produção (oficinas práticas de técnicas de vídeo, gravação de entrevista de rua, pequenos documentários sobre o cotidiano da comunidade); pós-produção (edição de todo o material produzido) e projeção (exibição, em telão, na Rua Planaltina, em frente à sede da instituição). Em média, 300 pessoas assistem à exibição, que ocorre a cada dois meses, sempre aos sábados, às 19h, e dura entre 20 e 30 minutos. Muitos assistem da janela da própria casa.
As técnicas de produção audiovisual assemelham-se às adotadas nos grandes veículos, porém, conforme Valdenor, não existe pressão em relação ao tempo, o que permite a produção de programas com mais qualidade: “só sai quando fica bom”, explica. Além disso, a linguagem utilizada na mídia comercial não se encaixa no perfil da TV Janela. “O roteiro é produzido a partir da nossa realidade”, destaca o diretor.
A Secretaria de Cultura do Município (Secultfor) utiliza o material produzido pela TV Janela em postos de saúde, festivais de cultura e em alguns ônibus que fazem linha na cidade. Muitos jovens que participaram do projeto seguem, hoje, carreira em empresas do ramo, como TVs abertas e produtoras de vídeo, aproveitando todo o conhecimento adquirido nas oficinas. “Aqui foi uma escola muito boa para a minha vida”, afirma Márcio Jerônimo, integrante da TV Janela desde sua fundação.
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