segunda-feira, 22 de abril de 2013

Comunicação como mediação e jogo de ethos

Por Anna Regadas

A definição de cultura vista pelo senso comum é atribuída a uma série de valores, costumes e tradições de um povo. No entanto a definição é relativa, na medida em que o que é considerado tradição para um grupo de pessoas, pode não ter significado para outro grupo. Conforme Geertz, (1978, pg 56) a cultura é definida como um conjunto de mecanismos de controle simbólico (...) para governar os comportamentos do homem.
            As pessoas carregam, portanto laços, que foram repassados por outras gerações, práticas de um modo de vida que hoje são denominadas de tradições e que por ter valores agregados conduzem o comportamento social. Essa questão já era tratada pelos filósofos gregos, quando definiam como “ethos” o conjunto de hábitos ou crenças de uma nação, ou seja os costumes e traços de um povo.
            Para Aristóteles, “ethos” trata-se de um comportamento moral, do caráter e até mesmo da autoridade de um orador para influenciar seu público. Ele também designa as características morais, sociais e afetivas que definem o comportamento de uma pessoa ou cultura.
            As pessoas assumem, portanto uma identidade, dentro daquilo ao qual lhe é repassado pelos pais, pelos amigos, pela escola, pelos meios de comunicação, mas também por uma espécie de moral que define o que é certo e o que é errado.  Muitos desses conceitos estão enraizados com a religião, com os estudos dos filósofos, e que são adaptados pelo povo à sua realidade. Assim ao reconhecer as diversidades, tenta-se superar os preconceitos geradores de intolerância.
            No campo da comunicação, o jogo de ethos é empregado para atingir o público e conseguir audiência para determinada mídia. Como por exemplo, um programa policial que retrata os crimes que acontecem numa determinada região, principalmente na periferia da cidade. Assim as pessoas mais carentes, ganham um espaço na televisão, o que gera grande audiência, já que a vida popular, de pessoas comuns é transmitida por um veículo de comunicação.
            No entanto, o que se verifica é uma inversão de valores, na medida em que a idéia transmitida é a de que a segurança pública é tida como um problema particular e não do governo. Ocorre, portanto a chamada sedução, na medida em que se dá visibilidade a alguns elementos das culturas subalternas para conquistar audiência e promover ideologias.
            Assim é feito um jogo de ethos, na medida em que os jornalistas entram em conflito com as exigências empresariais e interesses corporativos.  De acordo com Lacerda, (1992 apud SILVEIRA, 1993, p. 90) o sensacionalismo é uma irresponsabilidade na imprensa, na medida em que fogem daquilo do que é de interesse público. Já Silveira afirma que as práticas autoritárias do jornalismo, expressas em conceitos como da objetividade limitam o jornalista enquanto sujeito que exerce m trabalho que envolve aprendizado, reflexão e ação moral. “É uma tentativa de alijá-lo de um projeto ético de humanização de significados, levando-as à práxis reducionista, que vê o mundo a partir do ângulo de procedimentos técnicos. É uma ética cientificista que exclui o subjetivo, o emocional e as paixões eu que são as responsáveis pela vivificação do mundo”. ( SILVEIRA,1993, p. 165-166).
Referências:  
SILVEIRA, Santa Maria. Ética: esta lei pega?: apontamentos sobre a moralidade que a imprensa prega e pratica. 1993. 220 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
LACERDA, Carlos. Aplicabilidade da ética em jornalismo: pesquisa de campo. Entrevista concedida a Silveira, 1992. In: SILVEIRA, Santa Maria. Ética: esta lei pega? Apontamentos sobre a
moralidade que a imprensa prega e pratica. 1993. 220 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.




Um comentário:

  1. O início do post mostra, na minha opinião, a palavra mais adequada para se referir ao contexto daquilo que é entendido como cultura: multiplicidade. Temos uma herança cultural, carregamos traços culturais no dia a dia. São esses valores que nos determinam e acabam nos identificando pelos conteúdos produzidos pelas diferentes mídias e formatos.

    ResponderExcluir