segunda-feira, 29 de abril de 2013

Popular como reprodução social


No campo do popular como reprodução, Pierre Bourdieu apresenta o conceito de habitus, demonstrando o poder das representações sociais, ou seja, como a sociedade, grupos, e indivíduos  pensam de si mesmos, através de simbolismos fixados no cotidiano que remetem a cada uma das classes da população. Dessa maneira, cria-se um sistema de diferenças entre as classes, diferenças não notadas pela população, e que são tidas como naturais, e a partir dessas diferenças é que se consegue identificar indivíduos pertencentes a um grupo e a outro.

Todas as reflexões se baseiam em uma pesquisa realizada por Bourdieu na França dos anos 70, onde ele observou diversos aspectos da população como alimentação, esporte, higiene, etc. conseguindo através disso, revelar a afirmação de classe. Nesse caso, uma classe comia alimentos mais gordurosos, praticava esportes com maior contato físico e usava poucos produtos de higiene e poucas peças de vestuário, justamente o oposto da outra classe, com alimentos saudáveis, esportes que exigiam menor ou nenhum uso da força e usavam muitos produtos de higiene e muitas roupas. Para Bourdieu, a precariedade de recursos para as classes populares não era uma opção, e sim imposição de suas condições sócio-econômicas.

É interessante notar que muitos dos valores dessa pesquisa anterior já não existem mais nos dias atuais, e Bourdieu alarmou quanto a isso quando disse que “uma prática inicialmente popular pode ser retomada em algum momento pelos nobres”. O futebol é um dos maiores exemplos disso, pois é um esporte com bastante contato físico, e está cada vez mais inserido no cotidiano das classes mais altas, com o aumento de infra-estrutura em estádios, criação de camarotes, e aumento constante do preço de ingressos. Pode-se dizer o mesmo do futebol americano, outro esporte de intenso contato físico e que conta com o Superbowl, o evento mais assistido dos Estados Unidos todos os anos.

Na questão dos vestuários também pode-se observar que hoje as duas classes tem condições de ter variadas roupas, e isso ocorre por dois fatores: aumento de poder aquisitivo das classes populares, e aumento de lojas voltadas a esse público, fabricando roupas a preços que estão ao alcance dessa classe, proporcionando essa mudança de simbolismo.

Dessa maneira, podemos perceber que as classes, embora tenham algumas de suas características intrínsecas, estão sempre se reinventando de acordo com as próprias mudanças naturais da sociedade, tornando  assim impossível que tais simbolismos perdurem por tempo indeterminado, e no fim das contas o que vai mesmo diferenciá-las são as noções da sociedade em que elas estarão inseridas.

Um comentário:

  1. Hoje em dia ainda podemos ( e notamos muito) as reapropriações de costumes que Bordieu fala em seus estudos. Hábitos de classes sendo absorvida por outras. Chego a notar muito isso no campo da moda, quando algo que antes seria classificado como 'brega' chega a ser cult e adorado nos grandes salões.

    ResponderExcluir