Nem
só de pão vive o homem. Da mesma forma, nem só da mídia comercial vive a
comunidade.
Este
raciocínio é um dos principais pilares que sustentam as iniciativas da imprensa popular, ou seja, feita exclusivamente para suprir a demanda
comunicacional de determinadas comunidades.
Beatriz
Dornelles, em seu artigo intitulado Imprensa
Local, busca explicar as características e as peculiaridades da comunicação
popular, tendo, inclusive, a preocupação de deixar clara a linha tênue que a
diferencia da comunicação comunitária.
Para
a autora, ações de comunicação comunitária, necessariamente, exigem uma gestão
coletiva. Já a comunicação popular, nem tanto. O único critério para sua
efetiva funcionalidade é que seja comprometida com o bem da comunidade, buscando
fortalecimento de seus valores morais e éticos como arte, folclore, tradição e
ideologias. Sendo assim, cabe ao profissional de jornalismo que gerencia o
conteúdo de determinada mídia popular a seguir estes preceitos.
Guia comercial distribuído no bairro Cidade dos Funcionários. Antigamente, era impresso no formato A4 e distribuído como informativo do bairro. |
Porém,
na prática, o que vemos é bem diferente. Em Fortaleza, por exemplo, a maioria
dos jornais ditos de bairro ou de comunidade é, na verdade, um leque de opções
comerciais. O motivo é óbvio: patrocínio. No entanto, o uso do nome “jornal”
para denominar este tipo de “guia comercial”, é o que causa desconforto para
estudiosos e defensores da imprensa popular.
Um
jornal popular, feito para dar voz à comunidade e produzido com base nas
características da comunicação popular, deve buscar a divulgação de fatos
ocorridos no âmbito da própria comunidade. Se deixarmos de dar espaço para esta
divulgação de informações e, em seu lugar, encaixarmos campanhas publicitárias
(por mais que sejam de comércios existentes na comunidade), então deixamos de
fazer comunicação popular.
Outro
exemplo (que, particularmente, considero errôneo) de imprensa popular em
Fortaleza é o jornal Aqui CE. O periódico, com tiragem de aproximadamente dez
mil exemplares, defende seu conteúdo como sendo comunicação popular porque,
segundo o editor-executivo do jornal, Márcio Dornelles, é o que mais se
aproxima da realidade do povo cearense, seja na escrita, no formato, na
diagramação ou no próprio conteúdo. Uma rápida olhada em algumas capas do jornal
justifica a negatividade da minha opinião:
Para
ser popular, então, é necessário que o jornal dê tanto destaque somente a
mulheres seminuas e violência? Que pesquisa confirmou que esses são os únicos
assuntos que interessam à comunidade? E quanto àquelas características que
promovem o fortalecimento de valores éticos e morais? Ficam mais bonitas no
papel, não é?
Não,
não é.
Bom questionamento Luana Severo. Até poque existe uma grande diferença entre jornal Popular e jornal Popularesco. Como você mesmo destaca no texto, o Popular tem o ideal de promover uma comunidade, de questionar os preceitos sociais que regem aquele espaço, promovendo a cultura local,e lutando por ideais coletivos de importância para o desenvolvimento social e artístico do local. Já o jornal Popularesco, ou Sensacionalista, nada têm disso, eles prezam somente pela linguagem chula, abordando de forma grotesca assuntos importantes como o alto índice de violência dos grandes centros urbanos. Não estão ligados a ética profissional, de forma errônea e irresponsável, escrevendo o nome de menores de idade envolvidos em atos criminosos,ou até mesmo usando verbos como morreu para crianças e papocou para traficantes. Sem falar nas mulheres quase peladas, que saem todos os dias na capa de jornais, com um único intuito, o de promover a compra do periódico pelo público masculino.
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