sexta-feira, 17 de maio de 2013

A voz do povo é a voz... do povo!


Nem só de pão vive o homem. Da mesma forma, nem só da mídia comercial vive a comunidade.

Este raciocínio é um dos principais pilares que sustentam as iniciativas da imprensa popular, ou seja, feita exclusivamente para suprir a demanda comunicacional de determinadas comunidades.

Beatriz Dornelles, em seu artigo intitulado Imprensa Local, busca explicar as características e as peculiaridades da comunicação popular, tendo, inclusive, a preocupação de deixar clara a linha tênue que a diferencia da comunicação comunitária.

Para a autora, ações de comunicação comunitária, necessariamente, exigem uma gestão coletiva. Já a comunicação popular, nem tanto. O único critério para sua efetiva funcionalidade é que seja comprometida com o bem da comunidade, buscando fortalecimento de seus valores morais e éticos como arte, folclore, tradição e ideologias. Sendo assim, cabe ao profissional de jornalismo que gerencia o conteúdo de determinada mídia popular a seguir estes preceitos.

Guia comercial distribuído no bairro Cidade dos Funcionários.
Antigamente, era impresso no formato A4  e distribuído
como informativo do bairro. 
Porém, na prática, o que vemos é bem diferente. Em Fortaleza, por exemplo, a maioria dos jornais ditos de bairro ou de comunidade é, na verdade, um leque de opções comerciais. O motivo é óbvio: patrocínio. No entanto, o uso do nome “jornal” para denominar este tipo de “guia comercial”, é o que causa desconforto para estudiosos e defensores da imprensa popular.

Um jornal popular, feito para dar voz à comunidade e produzido com base nas características da comunicação popular, deve buscar a divulgação de fatos ocorridos no âmbito da própria comunidade. Se deixarmos de dar espaço para esta divulgação de informações e, em seu lugar, encaixarmos campanhas publicitárias (por mais que sejam de comércios existentes na comunidade), então deixamos de fazer comunicação popular.

Outro exemplo (que, particularmente, considero errôneo) de imprensa popular em Fortaleza é o jornal Aqui CE. O periódico, com tiragem de aproximadamente dez mil exemplares, defende seu conteúdo como sendo comunicação popular porque, segundo o editor-executivo do jornal, Márcio Dornelles, é o que mais se aproxima da realidade do povo cearense, seja na escrita, no formato, na diagramação ou no próprio conteúdo. Uma rápida olhada em algumas capas do jornal justifica a negatividade da minha opinião:





Para ser popular, então, é necessário que o jornal dê tanto destaque somente a mulheres seminuas e violência? Que pesquisa confirmou que esses são os únicos assuntos que interessam à comunidade? E quanto àquelas características que promovem o fortalecimento de valores éticos e morais? Ficam mais bonitas no papel, não é?  

Não, não é.

Um comentário:

  1. Bom questionamento Luana Severo. Até poque existe uma grande diferença entre jornal Popular e jornal Popularesco. Como você mesmo destaca no texto, o Popular tem o ideal de promover uma comunidade, de questionar os preceitos sociais que regem aquele espaço, promovendo a cultura local,e lutando por ideais coletivos de importância para o desenvolvimento social e artístico do local. Já o jornal Popularesco, ou Sensacionalista, nada têm disso, eles prezam somente pela linguagem chula, abordando de forma grotesca assuntos importantes como o alto índice de violência dos grandes centros urbanos. Não estão ligados a ética profissional, de forma errônea e irresponsável, escrevendo o nome de menores de idade envolvidos em atos criminosos,ou até mesmo usando verbos como morreu para crianças e papocou para traficantes. Sem falar nas mulheres quase peladas, que saem todos os dias na capa de jornais, com um único intuito, o de promover a compra do periódico pelo público masculino.

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