A cultura da transparência se tornou,
ultimamente, muito mais do que um tema acadêmico, mas uma preocupação
governamental e um marketing de empresas, pretensa e falsamente transparentes.
Segundo o professor Dr. Derrick de Kerchove da Universidade de Toronto, durante
a Conferência de Abertura do Congresso Internacional de Comunicação
Ibero-Americano (Ibercom), em 31 de março de 2015, em São Paulo, a explosão dos
dados (big data) é uma causas desta inevitável transparência. Para onde vamos,
nas redes digitais, deixamos rastros que podem ser voluntariamente ou involuntariamente
acompanhados, vasculhados e reconstituídos.
“Antes a tortura era a base da transparência.
Hoje é o big data é nosso torturador”, afirmou Kerchove. Ele indica a
recomendação de Byung-Chul Han, autor de A sociedade da transparência, para a
situação: em vez de lamentar a transparência, precisamos explorar as
consequências da transparência. Para isso, necessitamos criar direitos de
acesso, de correção, de uso e reuso, de propriedade e distribuição e uma nova Governança,
o empowerment de um governo aberto e da democracia em geral e irrestrita. Para
ele, esta cultura da transparência seria conquistada também por informação de
guerrilha, como o as do Wikileaks, a guerra cibernética dos hackers contra
governos autoritários e mobilizações de ruas, como os Anonymous.
Para mim, pensar nesta cultura da
transparência, só seria possível se não reconhecêssemos, como ensina o
sociólogo francês Dominique Wolton, que a internet possui temporalidades
diferentes e distâncias intransponíveis, que há uma defasagem entre o mundo
vivido e o mundo representado e que as desigualdades ressurgem entre os mais
protegidos e os quase completamente desprotegidos, entre os mais competentes e
os menos habilidosos, entre os mais conectados e os poucos conectados... Falar
em cultura da transparência pode obscurecer a cultura da intrusão que o
mercado e os governos tentam nos impor.
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