A diversidade não é só uma condição humana, mas uma postura
de respeito às diferenças e aos diferentes. Certamente, não é uma posição fácil
e cômoda. Aceitar o outro significa, muitas vezes, negar a si ou, ao menos,
desapegar-se de convicções, compreendendo-as como crenças particulares.
A defesa da diversidade compõe, em última instância, a busca
pela reciprocidade. Em outras palavras, tratar o outro da maneira como
gostaríamos que fossemos tratados. O princípio é assim, a alteridade, isto é, o
reconhecimento do outro como diferente de mim. Esta é uma relação não só
interpessoal e individual, mas sobretudo social, dado que nos organizamos em
culturas que se tecem nas diferenças. Pois, o conjunto de bens simbólicos, comportamentos
e crenças de uma coletividade se estabelece em dois movimentos, um interno de
identidade que gera laços de pertencimento, o reconhecimento mútuo entre seus
membros, e um outro, externo, baseado na diferenciação dos outros grupos.
O problema reside quando este processo nos incapacita de reconhecer
identidades ou, ao menos, proximidades entre os diferentes e ironicamente a
diversidade, pensada para a reciprocidade, acaba dificultando ou inviabilizando
o convívio entre os diferentes que inevitavelmente exige o mínimo de
articulação e solidariedade. Neste extremo, a defesa das diferenças pode chegar
ao distanciamento e isolamento. Como tecer relações, mesmo que contingentes e
temporárias, com o outro sem o identificar?
Assim um movimento contrário se faz necessário: encontrar
identidades mesmo nas diferenças. Para isso, é preciso saber que as culturas
não são monolíticas e puras. São, inevitavelmente, mestiças e híbridas, historicamente
tecidas também através de relações de encontros e proximidades.
Esta percepção me surge quando, pela quinta vez, fui para
San Cristóbal de Las Casas (Chiapas – México), em julho de 2015. Só que desta
vez decidi entrar pela fronteira de Guatemala. Assustei-me com as proximidades
entre os dois lugares que, mesmo em países distintos, aproximam-se mais do que
o Distrito Federal (DF) mexicano de Chiapas. A proximidade está não só nas
empresas do México, como Elecktra eletrodomésticos, o Banco Asteca, as
Farmácias Simi, a Cervejaria Modelo, instaladas em território guatemalteco, como
parte do expansionismo econômico regional, mas nos próprios costumes. Mesmo que
mais espessas, as tortilhas também acompanham as refeições. As indígenas com
seus trajes típicos vendem artesanatos e comidas nas ruas tal qual como as
Chamulas em San Cris. A arquitetura colonial é a mesma qualquer cidade
explorada pelos ibéricos.
Para reconhecer estas identidades é necessário entender que não
são mera coincidência ou fruto do universalismo humano, mas que, apesar de suas
específicas conjunturas, historicamente Chiapas pertenceu à Audiência da
Guatemala durante todo o período de colonização e que os povos originários
destas regiões possuem a descendência maya, partilhando, mesmo sem o
reconhecimento mútuo, tradições, conhecimentos e comportamentos. A compreensão desses
inevitáveis encontros possibilita criar, ainda diante dos irreconciliáveis
conflitos, pontes de encontros com o outro, sem as quais alteridade e
diversidade se anulam a si mesmas.
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