segunda-feira, 20 de julho de 2015

Diversidades e identidades

A diversidade não é só uma condição humana, mas uma postura de respeito às diferenças e aos diferentes. Certamente, não é uma posição fácil e cômoda. Aceitar o outro significa, muitas vezes, negar a si ou, ao menos, desapegar-se de convicções, compreendendo-as como crenças particulares.
A defesa da diversidade compõe, em última instância, a busca pela reciprocidade. Em outras palavras, tratar o outro da maneira como gostaríamos que fossemos tratados. O princípio é assim, a alteridade, isto é, o reconhecimento do outro como diferente de mim. Esta é uma relação não só interpessoal e individual, mas sobretudo social, dado que nos organizamos em culturas que se tecem nas diferenças. Pois, o conjunto de bens simbólicos, comportamentos e crenças de uma coletividade se estabelece em dois movimentos, um interno de identidade que gera laços de pertencimento, o reconhecimento mútuo entre seus membros, e um outro, externo, baseado na diferenciação dos outros grupos.

O problema reside quando este processo nos incapacita de reconhecer identidades ou, ao menos, proximidades entre os diferentes e ironicamente a diversidade, pensada para a reciprocidade, acaba dificultando ou inviabilizando o convívio entre os diferentes que inevitavelmente exige o mínimo de articulação e solidariedade. Neste extremo, a defesa das diferenças pode chegar ao distanciamento e isolamento. Como tecer relações, mesmo que contingentes e temporárias, com o outro sem o identificar?

Assim um movimento contrário se faz necessário: encontrar identidades mesmo nas diferenças. Para isso, é preciso saber que as culturas não são monolíticas e puras. São, inevitavelmente, mestiças e híbridas, historicamente tecidas também através de relações de encontros e proximidades.
Esta percepção me surge quando, pela quinta vez, fui para San Cristóbal de Las Casas (Chiapas – México), em julho de 2015. Só que desta vez decidi entrar pela fronteira de Guatemala. Assustei-me com as proximidades entre os dois lugares que, mesmo em países distintos, aproximam-se mais do que o Distrito Federal (DF) mexicano de Chiapas. A proximidade está não só nas empresas do México, como Elecktra eletrodomésticos, o Banco Asteca, as Farmácias Simi, a Cervejaria Modelo, instaladas em território guatemalteco, como parte do expansionismo econômico regional, mas nos próprios costumes. Mesmo que mais espessas, as tortilhas também acompanham as refeições. As indígenas com seus trajes típicos vendem artesanatos e comidas nas ruas tal qual como as Chamulas em San Cris. A arquitetura colonial é a mesma qualquer cidade explorada pelos ibéricos.

Para reconhecer estas identidades é necessário entender que não são mera coincidência ou fruto do universalismo humano, mas que, apesar de suas específicas conjunturas, historicamente Chiapas pertenceu à Audiência da Guatemala durante todo o período de colonização e que os povos originários destas regiões possuem a descendência maya, partilhando, mesmo sem o reconhecimento mútuo, tradições, conhecimentos e comportamentos. A compreensão desses inevitáveis encontros possibilita criar, ainda diante dos irreconciliáveis conflitos, pontes de encontros com o outro, sem as quais alteridade e diversidade se anulam a si mesmas.

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