sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sobre o rádio atual: para um velho amigo

Dezesseis anos depois, um velho amigo retorna para fazer rádio em Fortaleza, na capital cearense. E eu que estive ao lado dele, em sua última passagem, no final da agora longínqua década de 1990, quando ainda utilizamos cartuchos, CDs e MDs no estúdio, não poderia negar-lhe uma saudação com algumas palavras sobre o rádio atual. 

O computador que, nesta época, era apenas um novo equipamento – quase um adorno - sendo introduzido no estúdio, convivendo junto com as outras parafernálias lembradas, dominou o ambiente tecnológico do rádio rapidamente. Junto com esta máquina também veio a internet que longe de ameaçar o fim do rádio - como na década de 1950, diziam que a televisão acabaria com o meio - cria novas possibilidades e desafios.

Primeiro, fazer rádio hoje não pode ser somente tocar músicas. O esquema “viotrolão” que salvou muitos veículos nos anos de 1950 chegou ao limite. O trânsito on line, seja nos aplicativos, nos sites e nos downloads, torna a oferta musical radiofônica desnecessária e até indesejada para os ouvintes que preferem programar seus próprios playlists e descobrir flanando na rede as novidades musicais.

O conteúdo informativo e de entretenimento torna-se um dos principais atrativos do rádio, transversal e multiforme para ser partilhado ao vivo e sob demanda, nas ondas hertzianas, nas redes sociais e nos aplicativos incluindo texto, vídeo, foto e obviamente áudio. Sim, a voz humana retorna a ser uma das principais atrações do meio, pois traz facilmente a emoção que, muitas vezes, as letras dos posts carecem, a conversa que, quase sempre, se dispersa nos chats e a companhia e a animação geralmente ausente nas solidões interativas da rede.

O rádio não está só mais no som de casa e do carro e do aparelho portátil, mas na televisão, no computador e, principalmente, no celular, trazendo novas formas de escutar, ver e ler o meio. O segundo desafio é assim produzir conteúdo que não só se adapte às potencialidades destes vários suportes como esteja disponível para ser escutado sob demanda em arquivos acessados e tocados a qualquer momento e lugar. O rádio precisa aprender a escrever assim como deve ensinar a internet a falar. 

As transmissões em Ondas Curtas e em Amplitude Modulada entram em extinção. A rádio na Internet substitui a abrangência das primeiras. Se antes era num aparelho de rádio com SW (Short Watts) onde procurávamos sons do mundo inteiro, é agora na rede que encontramos as emissoras do Catar, México, Azerbaijão ou Inglaterra. Já a AM tende a migrar para as novas faixas da Frequência Modulada (75 Mhz a 87,7 Mhz) antes ocupadas pelas emissoras de televisão que agora transmitem digitalmente em outros canais. Deixará um vácuo nos longínquos e isolados rincões campesinos onde só esta modulação chegava.

E o rádio digital? Sucumbido pela ganância empresarial e pela omissão estatal, morreu antes de nascer. Condicionado à escuta em sofisticados e caros aparelhos, cobrando royatels da transmissão à recepção se tornou inviável porque perdeu a principal qualidade do meio, a simplicidade e a possibilidade de escutar e transmitir até em situações de catástrofes e nos mais inóspitos ambientes.

Mesmo num contexto de tantas mudanças, desafios e inevitáveis mutações, o rádio segue diverso. Ainda que novos conteúdos, formatos e suportes sejam demandados, muitos ouvintes ainda preferem a comodidade do rádio como fundo musical para ler, trabalhar ou dirigir ou de escutar a prosa matuta no pé do ouvido durante o cair da tarde ou ainda de dormir com o radinho ligado debaixo do travesseiro, nutrindo uma infinita paixão pelo meio.  

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