Dezesseis anos depois, um
velho amigo retorna para fazer rádio em Fortaleza, na capital cearense. E eu
que estive ao lado dele, em sua última passagem, no final da agora longínqua
década de 1990, quando ainda utilizamos cartuchos, CDs e MDs no estúdio, não
poderia negar-lhe uma saudação com algumas palavras sobre o rádio atual.
O computador que, nesta época, era apenas um novo equipamento – quase um adorno - sendo introduzido no
estúdio, convivendo junto com as outras parafernálias lembradas, dominou o
ambiente tecnológico do rádio rapidamente. Junto com esta máquina também veio a internet
que longe de ameaçar o fim do rádio - como na década de 1950, diziam que a televisão
acabaria com o meio - cria novas possibilidades e desafios.
Primeiro, fazer rádio hoje não
pode ser somente tocar músicas. O esquema “viotrolão” que
salvou muitos veículos nos anos de 1950 chegou ao limite. O trânsito on line, seja nos aplicativos, nos sites
e nos downloads, torna a oferta musical radiofônica desnecessária e até
indesejada para os ouvintes que preferem programar seus próprios playlists e descobrir flanando na rede
as novidades musicais.
O conteúdo informativo e de entretenimento torna-se um dos
principais atrativos do rádio, transversal e multiforme para ser partilhado ao
vivo e sob demanda, nas ondas hertzianas, nas redes sociais e nos aplicativos
incluindo texto, vídeo, foto e obviamente áudio. Sim, a voz humana retorna a
ser uma das principais atrações do meio, pois traz facilmente a emoção que, muitas
vezes, as letras dos posts carecem, a conversa que, quase sempre, se dispersa
nos chats e a companhia e a animação geralmente ausente nas solidões
interativas da rede.
O rádio não está só mais no som de casa e do carro e do
aparelho portátil, mas na televisão, no computador e, principalmente, no
celular, trazendo novas formas de escutar, ver e ler o meio. O segundo desafio
é assim produzir conteúdo que não só se adapte às potencialidades destes vários
suportes como esteja disponível para ser escutado sob demanda em arquivos acessados
e tocados a qualquer momento e lugar. O rádio precisa aprender a escrever assim
como deve ensinar a internet a falar.
As transmissões em Ondas Curtas e em Amplitude Modulada entram
em extinção. A rádio na Internet substitui a abrangência das primeiras. Se
antes era num aparelho de rádio com SW (Short Watts) onde procurávamos sons do
mundo inteiro, é agora na rede que encontramos as emissoras do Catar, México,
Azerbaijão ou Inglaterra. Já a AM tende a migrar para as novas faixas da
Frequência Modulada (75 Mhz a 87,7 Mhz) antes ocupadas pelas emissoras de
televisão que agora transmitem digitalmente em outros canais. Deixará um vácuo
nos longínquos e isolados rincões campesinos onde só esta modulação chegava.
E o rádio digital? Sucumbido pela ganância empresarial e pela omissão estatal, morreu antes de nascer. Condicionado à escuta em sofisticados e caros aparelhos, cobrando royatels da transmissão à recepção se tornou inviável porque perdeu a principal qualidade do meio, a simplicidade e a possibilidade de escutar e transmitir até em situações de catástrofes e nos mais inóspitos ambientes.
Mesmo num contexto de tantas mudanças, desafios e inevitáveis mutações, o rádio segue diverso. Ainda que novos conteúdos, formatos e suportes sejam demandados, muitos ouvintes ainda preferem a comodidade do rádio como fundo musical para ler, trabalhar ou dirigir ou de escutar a prosa matuta no pé do ouvido durante o cair da tarde ou ainda de dormir com o radinho ligado debaixo do travesseiro, nutrindo uma infinita paixão pelo meio.
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