Ernesto Laclau e Chantal Mouffe desenvolvem a teoria do agonismo político |
Por Ismar C. Costa Filho
A formação de relações e discursos que conduzem e predominam num meio social é inevitável para a existência de qualquer grupo. Assim Ernesto Laclau e Chantall Mouffe atualizam a teoria gramsciana, aplicando-a muito além das lutas entre burguesia e trabalhadores. A hegemonia permeia os grupos sociais, inclusive aqueles que lutam contra a opressão dos dominantes, porque o conflito é estruturante de qualquer relação política, dado que as diferenças são inevitáveis e para acomodá-las de alguma forma, mesmo que circunstancialmente, acordos são construídos a partir de versões que passam a significar e guiar, predominantemente, uma realidade. Desta maneira, a hegemonia está também nas relações políticas dentro dos sindicatos, dos coletivos de gênero, dos assentamentos, das associações de bairros, das comunidades autônomas... e também das universidades, por mais heterogêneas sejam as diversas correntes de pensamento que transitam e gestam estes espaços.
A formação de relações e discursos que conduzem e predominam num meio social é inevitável para a existência de qualquer grupo. Assim Ernesto Laclau e Chantall Mouffe atualizam a teoria gramsciana, aplicando-a muito além das lutas entre burguesia e trabalhadores. A hegemonia permeia os grupos sociais, inclusive aqueles que lutam contra a opressão dos dominantes, porque o conflito é estruturante de qualquer relação política, dado que as diferenças são inevitáveis e para acomodá-las de alguma forma, mesmo que circunstancialmente, acordos são construídos a partir de versões que passam a significar e guiar, predominantemente, uma realidade. Desta maneira, a hegemonia está também nas relações políticas dentro dos sindicatos, dos coletivos de gênero, dos assentamentos, das associações de bairros, das comunidades autônomas... e também das universidades, por mais heterogêneas sejam as diversas correntes de pensamento que transitam e gestam estes espaços.
A aparente tolerância ao diverso, nestes grupos, pode obscurecer
não só os conflitos intransponíveis, como sorrateiramente naturalizar e legitimar
valores dominantes. No campo acadêmico, que inclui universidades, faculdades, sociedades
de pesquisadores, grupos de pesquisa, órgãos de fomento..., a meritocracia, sem
dúvidas, cumpre o papel de ser o discurso hegemônico, fazendo circular e
assentar repertórios e ações que justificam privilégios e realizam exclusões-inclusões.
Baseada na crença de que se conquista o mérito e se ascende profissional e socialmente
pelo esforço e dedicação individuais, este discurso vela não só as
desigualdades estruturantes, que nunca vão permitir equânimes resultados e reconhecimentos,
como também controla os critérios de seleção e ascensão no campo acadêmico. Por
detrás das provas de concursos e dos critérios de progressão, por mais transparentes, públicos e de boa fé,
está a crença na justeza de avaliações baseadas, muitas vezes, em quantificações
do inquantificável e rotulações subjetivas apresentadas como objetivas. E para
agravar, estes processos atendem ainda demandas geradas em ambientes de urgência,
de falta de recursos e até de narcisismo. Grades curriculares, programas de
linhas de pesquisa e critérios de seleção são gerados, várias vezes, a partir de
fundamentações baseadas em ilações (internamente plausíveis) de pensamentos que pouco dialogam com as pessoas
que se formam profissionalmente ou são atendidas por estes profissionais. Neste
caldeirão, na menos pior das hipóteses, a crença no falso mérito exclui, a
partir de títulos, publicações, currículos..., e o aleatório dos sorteios de
pontos de programas esquizofrênicos "inclui" e vice-versa.
Um dos caminhos possíveis para começar a reverter a situação pode ser as
reflexões apontadas por Laclau e Mouffe e pelos conhecimentos situados localmente. O primeiro passo pode ser reconhecer e dar transparência e evidência aos conflitos. Isto
significa aclarar e visibilizar, no ambiente acadêmico, os questionamentos e os dissensos sobre a mobilidade
social e profissional baseada no mérito. A partir desta clareza, reconhecer que
as adversidades não devem significar a destruição do oposto, mas a construção
de acordos (nunca o cinismo de consensos) que busquem humanizar os processos seletivos, reconhecendo que o
papel dos mesmos não pode ser só a exclusão, mas deve ser predominantemente diversos tipos de inclusão e criando critérios
distintos para reparar as injustiças estruturantes (políticas afirmativas).
Desta maneira, poderemos começar a compreender que a universidade não é espaço
só para a performance, a eficiência, a assertividade e a eficácia da Ciência, mas espaço de
vivências e convivência que possam, através das ciênciaS, gerar pertencimentos, laços, afetos, tolerância,
solidariedade, construções coletivas, empoderamento e justiça social, mesmo nos inevitáveis conflitivos e que
possa produzir a improvável pulverização das hegemonias.
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